Entre abril e dezembro de 2021




    O tempo parou. Mas como isso é possível? O tempo não era circular e não linear? No inconsciente o tempo nem existe... Da perspectiva do que vivemos, o tempo parou. Talvez, em outra época, esse fosse o momento da revolução e, por se partir para a ação, o tempo não parasse.

    Agora não. É como se para não afundar no buraco, uma lama surgiu-emergiu, e dessa lama algo pode ser feito. Assim, o presente, o agora, não está como sempre esteve (o presente como sempre esteve era em direção ao futuro, mesmo que fosse o futuro igual ao passado. Agora não há futuro. Parou.). Talvez também porque vivemos um momento em que se fala, se colocam palavras, se buscam palavras para a realidade. É o que pôde ser feito em isolamento social.

    Com isso, somos bombardeados de informações. A ação, a potência, a urgência, deram lugar ao lidar, ao contornar, selecionar e perceber os limites. Não saímos do lugar, o tempo não passa, sabemos que não vai voltar a ser como era antes, mas também não se tem perspectiva de como sair disso para o futuro. Isso é o tempo parar. Essa é uma das experiências que de modo geral a pandemia e o isolamento social nos trouxe.

    No texto "Por uma geografia cidadã: por uma epistemologia da existência", Milton Santos associou os conceitos de presente, passado e futuro ao cotidiano, às atividades, ao movimento da vida cotidiana. Sem esse cotidiano, portanto, não perdemos esses balizadores e com eles o tempo como o conhecíamos? "O cotidiano supõe o passado como herança. O cotidiano supõe o futuro como projeto".

    Além de uma pandemia também passamos por esse período com um governo sem compromisso com a população e a democracia, tornando mais difícil esse projeto e a noção de futuro. Estamos entrando no terceiro ano de pandemia e último deste governo, e portanto, um ano de eleição. Um marco, que já traz algo do projeto e do tempo.


Autora: Ingrid Soledade Guimarães

Link para citar o texto: www.portalaurora.com.br/Conto20Julho2021

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